Análise Meteorológica da tragédia do Rio Grande do Sul
No período compreendido entre o final abril e as primeiras semanas de maio, configurou-se um padrão de bloqueio atmosférico sobre grande parte do Brasil, que impediu o avanço de frentes frias pelo interior do território.
Além disso, houve o estacionamento de uma ondulação na circulação atmosférica na média e alta troposfera, chamado de 'cavado' na Meteorologia Sinótica, no sul do continente, bem como a intensificação do jato subtropical, que na prática consiste numa região de ventos fortes na camada superior da atmosfera, e por onde trafegam os sistemas meteorológicos, tais como as frentes frias. Esta intensificação do jato subtropical é uma assinatura reconhecida em anos de El Niño especialmente forte, tal como o episódio que vinha atuando desde o outono de 2023, e do qual estamos saindo.
Na camada mais baixa da troposfera, a persistência do jato de baixos níveis foi o responsável pelo transporte de umidade da região amazônica para o sul-sudeste do continente.
Coletivamente, esta configuração da atmosfera contribuiu para a instalação de um canal de umidade, desde baixos a altos níveis, posicionado na transversal com a América do Sul e centralizado na altura do Rio Grande do Sul. A persistência deste canal de umidade por semanas, levou à formação de áreas de instabilidade que causaram temporais e altos acumulados de chuva no estado por dias consecutivos.
Ao longo deste período, as frentes frias que ingressaram na América do Sul, atingiram apenas o sul do Brasil e antes de seguirem em direção ao Oceano Atlântico, alimentaram o canal de umidade e, portanto, as instabilidades sobre o RS.
Como exemplo, imagens realçadas do canal infravermelho do satélite GOES-16 mostram nuvens de grande crescimento vertical, com temperaturas de -60°C a -100°C, relacionadas às tempestades severas que se formaram no RS entre os dias 01 e 02 de maio.
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